terça-feira, 7 de abril de 2009



Na quinta-feira dia 12 de Fevereiro de 2009, fomos à Clínica Médica de Reabilitação Santa Casa da Misericórdia, Avenida Nossa Senhora de Fátima em Leiria, com objectivo de entrevistar a fisioterapeuta Dr. Joana Romeiro.


Como é trabalhar com deficientes motores?
Há muitos tipos de deficientes motores, todos diferentes, mas que não é difícil trabalhar com estas. Antes de chegarem aos centros de fisioterapia, estas pessoas frequentam clínicas onde passam por um processo no qual se mentalizam do tipo de problema que têm e porque o têm, e são acompanhados por um psicólogo principalmente em Alcoitão ou na Tocha, e aprendem quais os exercícios a realizar na fisioterapia.
Por outro lado, esta profissão é muito pouco gratificante em relação aos deficientes motores, pois a maioria destes sabem que não resolverão o seu problema.


Que tipo de actividades podem desenvolver?
Não realizam actividades, apenas exercícios de força para manter ou melhorar a funcionalidade de um membro do corpo, por exemplo no caso de pacientes que pratiquem desporto, basquetebol, ténis ou natação.


Existem actividades/exercícios específicos?
Cada doente é um caso. Por exemplo no caso de um paraplégico campeão de ténis, apenas realizasse exercícios de braços. Na fisioterapia, no caso dos deficientes motores faz-se apenas a manutenção do que pode ser melhorado ou mantido, o que não tem hipótese de evoluir não fazemos nada em relação a isso porque tanto o paciente como o fisioterapeuta sabe que não vale a pena. A segurança social dá todo o tipo de material necessário às actividades de fisioterapia.


Qual a motivação destas pessoas?
Depende da faixa etária e do problema da pessoa.
Os adultos com uma vida familiar estável e com emprego, vivem como outra pessoa qualquer.
Com crianças é pior, pois não esperam por um grande futuro, porque mesmo que possam estudar vai ser muito difícil entrar no mercado de trabalho. Por outro lado, enquanto crianças não têm ainda noção do que lhes reserva o futuro e conseguem-se adaptar melhor. Há também doentes que após ficarem paraplégicos, desmotivam por completo e desmotivam todos aqueles que o rodeiam, porque não melhoram e estão completamente dependentes de terceiros.


Disponibilizam materiais (cadeiras de rodas, …)?
Não. Apenas são utilizadas as cadeiras que servem para transportar os doentes até a clínica de fisioterapia, por parte dos bombeiros ou ambulâncias. Trazem cadeiras de Alcoitão, Tocha ou Hospitais Centrais que são pagas pela Segurança Social. As cadeiras, são apenas emprestadas temporariamente aos hospitais centrais.
Materiais do género de andarilhos, tripés, canadianas e outros são os doentes que têm de comprar.


Em que medida este apoio pode melhorar a qualidade de vida dos deficientes?
Depende do tipo de deficiente. Vir á clínica fazer a sessão de tratamento melhora o psíquico do doente, pois permite-lhes conviver com outras pessoas e conversar sobre os seus problemas.


Ao longo da sua experiencia, como têm reagido os deficientes?
Todos os doentes são diferentes, têm reacções diferentes. Há pacientes que têm grande motivação e querem recorrer aos melhores tratamentos e fisioterapeutas, até por vezes recusando os fisioterapeutas que lhes foram propostos inicialmente. Há também pacientes que se sentem amargurados e que não reagem bem com quem os está a tratar, por fim há os pacientes que reagem muito bem e adaptam-se perfeitamente caso haja mudança de fisioterapeuta.


Quer falar-nos de algum caso que a tenha marcado?
«Foi o caso de uma menina de seis anos que ficou paraplégica, num acidente em Porto de Mós em que uma roda de camião soltou-se em direcção de uma escola primeira em que uma rapariga morreu, outra ficou sem um braço e por fim a rapariga que ficou paraplégica. Ouvir as notícias na televisão e ver ao vivo é completamente diferente. Para mim foi um choque ao ver que as pernas da rapariga não cresceram mais desde o acidente, agora que tem 15 anos. Além disso vive no seio de uma família com muitas dificuldades e fico triste por saber que não lhe espera um futuro risonho (…). Estas crianças têm sempre acompanhamento psicológico, mas é sempre complicado terem motivação, pois sabem que não vão voltar a andar, e acham que a fisioterapia no fundo é desnecessária…»


Houve alguma história caricata que tenha acontecido numa sessão de fisioterapia?
«Quando estava a estagiar em Neurologia, a trabalhar com deficientes motores, quando os cumprimentava dizia “Então como é que isso anda?” ou “Está tudo a correr bem?” e os pacientes respondiam “Pois andar ou correr nem por isso…”, só assim nos apercebemos que é preciso ter cuidado com o que dizemos (…). Outra situação, a pior que me aconteceu, foi deixar cair um tetraplégico que era muito pesado ao tentar transporta-lo sozinha, e ainda foi um doente de AVC que se levantou e começou a fugir, mas não devemos reagir mal as estas situações, devemos é rir para que as pessoas em volta se sintam bem»

Acabamos assim a entrevista, e pedimos autorização para fotografar a sala de fisioterapia e os equipamentos utilizados para os diferentes exercícios feitos pelos doentes.